Ainda não há explicação sobre o motivo pelo qual o exército de ocupação removeu um vídeo de X e republicou uma versão mais curta e editada no dia seguinte.
Já se passaram quase cinco dias desde que o exército israelense excluiu uma postagem nas redes sociais que alegava que o Hospital al-Shifa de Gaza foi usado como centro de controle e comando pelo Hamas antes de ser ocupado.
O exército removeu a postagem original na quarta-feira, substituindo-a por uma versão mais curta republicado com uma edição no dia seguinte. Nenhuma explicação para a exclusão do posto foi dada pelos militares israelenses.
“Faremos um vídeo único, sem edição, de todas as evidências que encontramos agora neste prédio do Hospital al-Shifa”, disse o porta-voz do exército Jonathan Conricus no início de ambas as versões do vídeo.
No entanto, é claramente visível que a filmagem foi editada no quadro de seis minutos e 26 segundos na versão mais recente e mais curta do vídeo.
No vídeo, Conricus conduz os espectadores através do que os militares israelenses dizem ser evidência da presença de combatentes do Hamas na maior instalação de saúde de Gaza, apresentando equipamentos de combate e armas, entre outros itens.
Sacolas plásticas supostamente contendo o que o exército descreve como “equipamento hospitalar” estão entre os itens exibidos no vídeo.
Nesta verificação de fatos, a Al Jazeera @KhalidMajzoub dá uma olhada em um vídeo em que uma suposta enfermeira do Hospital al-Shifa em Gaza afirma que o hospital era controlado pelo Hamas ⤵️ pic.twitter.com/c0C4l8wcJX
– Al Jazeera Inglês (@AJEnglish) 18 de novembro de 2023
No entanto, uma análise atenta do conteúdo dos sacos de plástico mostra que o que o exército israelita chama de “equipamento hospitalar” são, na verdade, ligaduras e pomadas.
A sua presença no hospital, de acordo com o porta-voz militar israelita, torna a extrema necessidade de suprimentos e equipamentos médicos de Gaza uma invenção. Ele também mostra aos telespectadores um laptop junto com alguns CDs, alegando que eles contêm informações valiosas.
Na nova versão do vídeo, porém, o mesmo laptop está desfocado. No vídeo original, era possível ver sua tela em foco, revelando o modelo do computador: Lenovo ThinkPad L460, um laptop que vem sem leitor de CD.
Reportagens de TV revelam mais problemas
Imagens de televisão publicadas pela BBC e Notícias da raposa repórteres, integrados no exército israelita em Gaza, revelam mais inconsistências, documentando como a cena no hospital foi aparentemente alterada.
Os repórteres foram escoltados até a sala de ressonância magnética da instalação e filmaram o que lhes foi dito ser uma prova de que combatentes do Hamas estiveram lá.
Nos seus vídeos, é possível ver dois rifles AK-47 no local – em vez do AK-47 do vídeo original compartilhado pelo exército israelense.
A própria BBC análise de verificação de fatos também destacou que o seu repórter só foi autorizado a entrar no local algumas horas depois de o exército israelita ter gravado o seu vídeo – como ficou evidente pela hora no relógio de pulso do porta-voz do exército israelita.
Num comunicado divulgado pela mídia nacional de Israel, os militares negaram as alegações de que haviam manipulado a cena em al-Shifa.
“Em certas áreas, os explosivos tiveram que ser realocados e gerenciados e as minas e cargas tiveram que ser retiradas. Só depois disso eles poderiam ser trazidos de volta à mesma sala para serem exibidos à mídia internacional”, afirmou.
As inconsistências nos vídeos levantam sérias questões sobre supostas alterações feitas na cena. É vital que estas questões sejam respondidas, uma vez que Israel utiliza as chamadas provas como justificação para atacar hospitais na sua guerra contra Gaza.
Além disso, as chamadas provas ainda não confirmam a afirmação do exército israelita de que existe um quartel-general de comando e controlo do Hamas dentro do Hospital al-Shifa.